quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Orações e Cerimônias da Santa Missa - Parte IV

Pax et bonum!



Em seguida vem o Kyrie, que, em uma Missa Solene, é dito no mesmo lado do altar, onde o Intróito foi lido. O sacerdote é acompanhado por seus ministros, que não vão para o meio do altar, até que ele mesmo o faça; entretanto, eles ficam atrás dele, nos degraus. Em uma Missa rezada, o Sacerdote diz o Kyrie no meio. Esta oração é um grito de súplica, em que a Igreja pede pela Misericórdia da Santíssima Trindade. Os três primeiros são invocações dirigidas ao Pai, que é o Senhor: Kyrie, eleison; (Senhor, tende piedade). Os três seguintes são dirigidas a Cristo, o Filho encarnado: Christe, eleison. Os três últimos são dirigidas ao Espírito Santo, que é o Senhor, juntamente com o Pai e o Filho, e, portanto, nós dizemos-lhe também: Kyrie, eleison. O Filho, também, é igualmente Senhor, com o Pai e o Espírito Santo, mas, a Santa Igreja, aqui dá-lhe o título de Cristo, por causa da relação que esta palavra traz à Encarnação. O Coro, também, faz as mesmas nove invocações, e as canta. Anteriormente, era a prática, em muitas igrejas, intercalar essas invocações com palavras, que eram cantadas na mesma melodia que as invocações em si, como encontramos em vários missais antigos. O Missal de São Pio V aboliu, quase inteiramente com estes Kyrie, chamados por conta destas adições populares, de “Farsati”, (em francês, farcis [1]). Quando o papa celebra uma Missa Solene, o canto do Kyrie é continuado durante o ato de homenagem que é pago a ele em seu trono, mas isso é uma exceção à observância presente em toda a Igreja. As três invocações, cada uma repetida três vezes (como agora praticado) são como uma união nossa, aqui abaixo, com os nove coros de Anjos, que cantam, no Céu, a glória do Altíssimo. Essa união nos prepara para nos juntarmos a eles no Hino a seguir, o qual esses espíritos abençoados trouxeram a esta nossa terra.








Em seguida, o sacerdote deve entoar o Gloria in Excelsis Deo; ele vai para o meio do altar; estende os braços num primeiro momento, e depois junta-se as mãos, mas, nem aqui, nem na entonação do Credo, se ele levanta os seus olhos. Ao fim do hino, ele faz o Sinal da Cruz, porque é pronunciado o nome de Jesus, que, juntamente com o Espírito Santo, está na glória de Deus Pai, e assim é feita a menção da Santíssima Trindade. Este hino é um dos mais antigos na coleção da Igreja. Houve uma tentativa (Mons. Cousseau,Bispo de Angoulême) para provar que ela foi composta por Santo Hilário. Mas realmente não há motivos para tal afirmação. Uma coisa é certa, - que este Hino data desde os primeiros dias da Igreja, e que pode ser encontrado em todos os missais das Igrejas Orientais. Nada pode exceder a beleza de suas expressões. Não é uma composição longa, como, por exemplo, o Prefácio, no qual a Santa Igreja sempre começa por algum ensinamento doutrinal, e depois volta-se para a oração: aqui, ao contrário, tudo é entusiasmo e linguagem fervorosa da alma. Os próprios anjos entoaram o Hino e a Igreja, inspirado como ela é pelo Espírito Santo, continua as palavras dos Anjos. Detenhamo-nos com as palavras deste cântico magnífico.
Gloria in excelsis Deo! et in terra, pax hominibus bonae voluntatis: Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens de boa vontade, para os homens que são amados de Deus. Estas são as palavras dos Anjos: a Deus, seja a glória; para os homens, que, até então, eram todos filhos da ira, a paz e a bênção de Deus. Nesta abertura do Hino, que fala com Deus, sem distinção de pessoas, e a Santa Mãe Igreja, a exemplo dos Anjos, assume, em primeiro lugar, o mesmo tom, e assim continua: Laudamus te: Nós Te louvamos , pois o louvor é devido a Ti, e nós oferecemos a Ti. Benedicimus te: Nós te bendizemos; ou seja, oferecemos-Te graças, em troca de Teus benefícios. Adoramus te: Adoramos-Te, ó majestade infinita! Glorificamus te: Damos glória a Ti, para que Tu nos criou e redimiu. A simples abordagem destas diversas expressões a Deus, com a intenção de louvá-Lo, agradecê-Lo, adorá-Lo e glorificá-Lo, é uma oração e louvor perfeito; tal é a intenção da Igreja; faça-se também a nossa, e não devemos precisar ir em busca de mais altos significados para as nossas palavras. Gratias agimus tibi propter magnam gloriam Tuam: Te damos graças por Tua grande glória. Quanto melhor entrarmos no sentido profundo dessas poucas palavras, vamos nos lembrar que Deus deseja fazê-las glória para Si mesmo para conceder Suas graças sobre nós. A maior delas é a Encarnação, e a Encarnação é a sua maior glória. Por isso, a Igreja pode muito bem dizer a Ele: Graças te damos, por causa da Tua grande glória; A homenagem prestada pelo Verbo encarnado, mesmo no que poderia ser pensado a menor de suas adorações, adquire mais glória à Divina Majestade, do que todos os seres criados, unidos, poderiam fazer. Verdadeiramente, portanto, a Encarnação é a grande glória de Deus. E nós as Suas criaturas Lhe damos graças por isso, porque se o Filho de Deus se encarnou, foi por nós, foi por causa de nós, que Ele fez. Sim, é para nós, que Tu, ó Deus, alcançou o mistério que Te dá a maior glória: é mais justo, então, que nós Te agradecemos por isso: Gratias agimus tibi propter magnam gloriam Tuam! - Domine Deus, Rex coelestis, Deus Pater omnipotens: Ó Senhor Deus, Rei Celestial, Deus Pai Todo-Poderoso. Aqui, a Igreja dirige-se diretamente ao Pai. Anteriormente, ela estava centralizada na Unidade que está na Divindade; ela agora pensa na Santíssima Trindade, e vê, em primeiro lugar, a Pessoa divina que é o princípio e a fonte dos outros dois; ela exclama Deus Pater omnipotens! Deus, Pai todo-poderoso! Então ela se vira para o seu Esposo Divino. Ela nunca pode se cansar de falar d’Ele, e quase todo o resto do Cântico é dirigido a ele. Ela canta o Filho de Deus encarnado, e ela o chama de Senhor: Domine, Fili unigenite: Senhor, o Filho Unigênito! Ela também o chama pelo nome humano, que ele recebeu como criatura: Jesu Christe! Mas, Ela não se esquece de que Ele é Deus; ela proclama em alta voz, dizendo: Domine DEUS, Agnus Dei, Filius Patris! Sim, o seu esposo é Deus, Ele é, também, o Cordeiro de Deus, como São João Batista declarou ele ao povo, e, finalmente, Ele é o Filho do Pai. No seu amor encantado, a Santa Igreja dá ao seu Esposo cada título que Ela pode pensar, ela enumera suas glórias, é uma alegria para Ela para anunciá-los todos de uma só vez. Entre esses títulos, Ela lhe dá o de Cordeiro de Deus, mas Ela parece hesitar um momento, antes de acrescentar qual é a triste consequência do título, - isto é, que Ele tinha que tomar os pecados do mundo sobre Si mesmo. Ela deve, em primeiro lugar, falar de novo de Sua magnificência, Ela o chama de Filius Patris, e dito isso, Ela com confiança canta ao seu Esposo, que, sendo o Cordeiro, se humilhou tanto, para tomar sobre Si os pecados do mundo: Qui Tollis peccata mundi. Quem tira, tira e arranca, os pecados do mundo. Tu se dignou a nos redimir com o Teu sangue; agora, portanto, que Tu estás na glória, à direita do Teu Pai, não nos abandona, mas tem piedade de nós: Miserere nobis! Ela já não hesita em dizer essas palavras; Ela as repete, para nos digam onde nossa força reside: Qui Tollis peccata mundi. O Cordeiro de Deus, o Filho do Pai, que tira nossas contaminações e os nossos pecados, o que temos a temer? Não é isso que nos torna fortes? A Igreja tem, portanto, isso em mente. Ela diz e re-diz a verdade gloriosa primeiro, ela pede por Misericórdia e, em seguida, ela implora a Ele para ouvir à oração de Sua Noiva: Suscipe deprecationem nostram. Eis-nos aqui reunidos para o Sacrifício; recebei, então, a nossa humilde oração.
Depois de ter falado assim, a Santa Igreja contempla o seu Esposo Divino entronizado no mais alto dos céus: Qui sedes ad dexteram Patris: Que está assentado à direita do Pai. Pouco antes, ela estava complacente olhando para Ele como o Cordeiro de Deus, que tomou sobre si os pecados de todo o mundo; Ela agora avança mais, e vai até a mão direita do Pai, onde Ela contempla Aquele que é o objeto de sua adoração e louvor. Lá, ela atinge o próprio ser de Deus; Lá, ela paga sua homenagem à toda Santidade, toda a Justiça, toda a Plenitude, toda a Grandeza, como Ela está indo agora para proclamar. Mas, primeiro, ela repete seu grito de misericórdia: Miserere nobis! Tem misericórdia de nós, pois Tu nos redimiu! Tu solus Sanctus; Tu solus Dominus, Tu solus Altissimus, Jesu Christe: Somente Tu és Santo, somente Tu és Senhor, somente Tu é o Altíssimo, ó Jesus Cristo! Assim, neste Cântico, santa Igreja persevera em sua procura para chegar a seu Esposo Divino; cada uma de suas exclamações é como uma tentativa de estar com Ele. Ela sabe de suas próprias necessidades, Ela pensa n’Ele, Ela é toda entusiasmo. Ela não menciona seu Nome, sem que antes Ela deve dizer todas as Suas perfeições; nenhuma deve ser esquecida. Ela habita em seu Nome, porque Ele é o seu Esposo, Ela louva e glorifica, e chama-o o único Deus, o único Senhor, o único Altíssimo. Ela acrescenta, no entanto: Cum Sancto Spiritu, in gloria Dei Patris: juntamente com o Espírito Santo, na glória de Deus Pai. Assim; ela menciona cada uma das três Pessoas da Santíssima Trindade e o louvores que ela dá a Cristo, chamando-O único Santo, único Senhor, único Altíssimo, aplicam-se também para as outras duas Pessoas, uma vez que o Pai e o Espírito Santo não podem ser separados do Filho, e, como Ele, são O Santo, O Senhor, O Altíssimo: e ninguém é Santo, ninguém é o Senhor, ninguém é Altíssimo, exceto o grande Deus.
Neste Cântico magnífico, tudo é, ao mesmo tempo, grande e simples. A Santa Igreja fica admirada com o pensamento de seu Esposo Divino. Ela começou com o Kyrie, em seguida, o Hino dos Anjos segue seu curso; Ela pegou o Hino deles, e o continuou; e o mesmo Espírito que falou, através dos Anjos, para os pastores, ensinou a Igreja como dignamente fechar o Cântico.

[1] Farcis, vem do francês e significa "recheado". (N. do T.)

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