Em seguida vem o Kyrie, que, em uma Missa Solene, é dito no mesmo
lado do altar, onde o Intróito foi lido. O sacerdote é acompanhado
por seus ministros, que não vão para o meio do altar, até que ele
mesmo o faça; entretanto, eles ficam atrás dele, nos degraus. Em
uma Missa rezada, o Sacerdote diz o Kyrie no meio. Esta oração é
um grito de súplica, em que a Igreja pede pela Misericórdia da
Santíssima Trindade. Os três primeiros são invocações dirigidas
ao Pai, que é o Senhor: Kyrie, eleison; (Senhor, tende
piedade). Os três seguintes são dirigidas a Cristo, o Filho
encarnado: Christe, eleison. Os três últimos são dirigidas
ao Espírito Santo, que é o Senhor, juntamente com o Pai e o Filho,
e, portanto, nós dizemos-lhe também: Kyrie, eleison. O
Filho, também, é igualmente Senhor, com o Pai e o Espírito Santo,
mas, a Santa Igreja, aqui dá-lhe o título de Cristo, por causa da
relação que esta palavra traz à Encarnação. O Coro, também, faz
as mesmas nove invocações, e as canta. Anteriormente, era a
prática, em muitas igrejas, intercalar essas invocações com
palavras, que eram cantadas na mesma melodia que as invocações em
si, como encontramos em vários missais antigos. O Missal de São Pio
V aboliu, quase inteiramente com estes Kyrie, chamados por
conta destas adições populares, de “Farsati”,
(em francês, farcis [1]). Quando o papa celebra uma Missa Solene,
o canto do Kyrie é continuado durante o ato de homenagem que
é pago a ele em seu trono, mas isso é uma exceção à observância
presente em toda a Igreja. As três invocações, cada uma repetida
três vezes (como agora praticado) são como uma união nossa, aqui
abaixo, com os nove coros de Anjos, que cantam, no Céu, a glória do
Altíssimo. Essa união nos prepara para nos juntarmos a eles no Hino
a seguir, o qual esses espíritos abençoados trouxeram a esta nossa
terra.
Em seguida, o sacerdote deve entoar o Gloria in Excelsis Deo;
ele vai para o meio do altar; estende os braços num primeiro
momento, e depois junta-se as mãos, mas, nem aqui, nem na entonação
do Credo, se ele levanta os seus olhos. Ao fim do hino, ele faz o
Sinal da Cruz, porque é pronunciado o nome de Jesus, que, juntamente
com o Espírito Santo, está na glória de Deus Pai, e assim é
feita a menção da Santíssima Trindade. Este hino é um dos mais
antigos na coleção da Igreja. Houve uma tentativa (Mons. Cousseau,Bispo de Angoulême) para provar que ela foi composta por Santo
Hilário. Mas realmente não há motivos para tal afirmação. Uma
coisa é certa, - que este Hino data desde os primeiros dias da
Igreja, e que pode ser encontrado em todos os missais das Igrejas
Orientais. Nada pode exceder a beleza de suas expressões. Não é
uma composição longa, como, por exemplo, o Prefácio, no qual a
Santa Igreja sempre começa por algum ensinamento doutrinal, e depois
volta-se para a oração: aqui, ao contrário, tudo é entusiasmo e
linguagem fervorosa da alma. Os próprios anjos entoaram o Hino e a
Igreja, inspirado como ela é pelo Espírito Santo, continua as
palavras dos Anjos. Detenhamo-nos com as palavras deste cântico
magnífico.
Gloria in excelsis Deo! et in terra, pax
hominibus bonae voluntatis: Glória a
Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens de boa
vontade, para os homens que são amados de Deus. Estas são as
palavras dos Anjos: a Deus, seja a glória; para os homens, que, até
então, eram todos filhos da ira, a paz e a bênção de Deus. Nesta
abertura do Hino, que fala com Deus, sem distinção de pessoas, e a
Santa Mãe Igreja, a exemplo dos Anjos, assume, em primeiro lugar, o
mesmo tom, e assim continua: Laudamus
te: Nós Te louvamos , pois o louvor é
devido a Ti, e nós oferecemos a Ti. Benedicimus
te: Nós te bendizemos; ou seja,
oferecemos-Te graças, em troca de Teus benefícios. Adoramus
te: Adoramos-Te, ó majestade infinita!
Glorificamus te:
Damos glória a Ti, para que Tu nos criou e redimiu. A simples
abordagem destas diversas expressões a Deus, com a intenção de
louvá-Lo, agradecê-Lo, adorá-Lo e glorificá-Lo, é uma oração e
louvor perfeito; tal é a intenção da Igreja; faça-se também a
nossa, e não devemos precisar ir em busca de mais altos significados
para as nossas palavras. Gratias agimus
tibi propter magnam gloriam Tuam: Te
damos graças por Tua grande glória. Quanto melhor entrarmos no
sentido profundo dessas poucas palavras, vamos nos lembrar que Deus
deseja fazê-las glória para Si mesmo para conceder Suas graças
sobre nós. A maior delas é a Encarnação, e a Encarnação é a
sua maior glória. Por isso, a Igreja pode muito bem dizer a Ele:
Graças te damos, por causa da Tua grande glória; A homenagem
prestada pelo Verbo encarnado, mesmo no que poderia ser pensado a
menor de suas adorações, adquire mais glória à Divina Majestade,
do que todos os seres criados, unidos, poderiam fazer.
Verdadeiramente, portanto, a Encarnação é a grande glória de
Deus. E nós as Suas criaturas Lhe damos graças por isso, porque se
o Filho de Deus se encarnou, foi por nós, foi por causa de nós, que
Ele fez. Sim, é para nós, que Tu, ó Deus, alcançou o mistério
que Te dá a maior glória: é mais justo, então, que nós Te
agradecemos por isso: Gratias agimus
tibi propter magnam gloriam Tuam! -
Domine Deus, Rex coelestis, Deus Pater
omnipotens: Ó Senhor Deus, Rei
Celestial, Deus Pai Todo-Poderoso. Aqui, a Igreja dirige-se
diretamente ao Pai. Anteriormente, ela estava centralizada na Unidade
que está na Divindade; ela agora pensa na Santíssima Trindade, e
vê, em primeiro lugar, a Pessoa divina que é o princípio e a fonte
dos outros dois; ela exclama Deus Pater
omnipotens! Deus, Pai todo-poderoso!
Então ela se vira para o seu Esposo Divino. Ela nunca pode se cansar
de falar d’Ele, e quase todo o resto do Cântico é dirigido a ele.
Ela canta o Filho de Deus encarnado, e ela o chama de Senhor: Domine,
Fili unigenite: Senhor, o Filho
Unigênito! Ela também o chama pelo nome humano, que ele recebeu
como criatura: Jesu Christe!
Mas, Ela não se esquece de que Ele é Deus; ela proclama em alta
voz, dizendo: Domine DEUS, Agnus Dei,
Filius Patris! Sim, o seu esposo é
Deus, Ele é, também, o Cordeiro de Deus, como São João Batista
declarou ele ao povo, e, finalmente, Ele é o Filho do Pai. No seu
amor encantado, a Santa Igreja dá ao seu Esposo cada título que Ela
pode pensar, ela enumera suas glórias, é uma alegria para Ela para
anunciá-los todos de uma só vez. Entre esses títulos, Ela lhe dá
o de Cordeiro de Deus, mas Ela parece hesitar um momento, antes de
acrescentar qual é a triste consequência do título, - isto é, que
Ele tinha que tomar os pecados do mundo sobre Si mesmo. Ela deve, em
primeiro lugar, falar de novo de Sua magnificência, Ela o chama de
Filius Patris,
e dito isso, Ela com confiança canta ao seu Esposo, que, sendo o
Cordeiro, se humilhou tanto, para tomar sobre Si os pecados do mundo:
Qui Tollis peccata mundi.
Quem tira, tira e arranca, os pecados do mundo. Tu se dignou a nos
redimir com o Teu sangue; agora, portanto, que Tu estás na glória,
à direita do Teu Pai, não nos abandona, mas tem piedade de nós:
Miserere nobis!
Ela já não hesita em dizer essas palavras; Ela as repete, para nos
digam onde nossa força reside: Qui
Tollis peccata mundi. O Cordeiro de
Deus, o Filho do Pai, que tira nossas contaminações e os nossos
pecados, o que temos a temer? Não é isso que nos torna fortes? A
Igreja tem, portanto, isso em mente. Ela diz e re-diz a verdade
gloriosa primeiro, ela pede por Misericórdia e, em seguida, ela
implora a Ele para ouvir à oração de Sua Noiva: Suscipe
deprecationem nostram. Eis-nos aqui
reunidos para o Sacrifício; recebei, então, a nossa humilde oração.
Depois de ter falado assim, a Santa Igreja
contempla o seu Esposo Divino entronizado no mais alto dos céus: Qui
sedes ad dexteram Patris: Que está
assentado à direita do Pai. Pouco antes, ela estava complacente
olhando para Ele como o Cordeiro de Deus, que tomou sobre si os
pecados de todo o mundo; Ela agora avança mais, e vai até a mão
direita do Pai, onde Ela contempla Aquele que é o objeto de sua
adoração e louvor. Lá, ela atinge o próprio ser de Deus; Lá, ela
paga sua homenagem à toda Santidade, toda a Justiça, toda a
Plenitude, toda a Grandeza, como Ela está indo agora para proclamar.
Mas, primeiro, ela repete seu grito de misericórdia: Miserere
nobis! Tem misericórdia de nós, pois
Tu nos redimiu! Tu solus Sanctus; Tu
solus Dominus, Tu solus Altissimus, Jesu Christe:
Somente Tu és Santo, somente Tu és Senhor, somente Tu é o
Altíssimo, ó Jesus Cristo! Assim, neste Cântico, santa Igreja
persevera em sua procura para chegar a seu Esposo Divino; cada uma de
suas exclamações é como uma tentativa de estar com Ele. Ela sabe
de suas próprias necessidades, Ela pensa n’Ele, Ela é toda
entusiasmo. Ela não menciona seu Nome, sem que antes Ela deve dizer
todas as Suas perfeições; nenhuma deve ser esquecida. Ela habita em
seu Nome, porque Ele é o seu Esposo, Ela louva e glorifica, e
chama-o o único Deus, o único Senhor, o único Altíssimo. Ela
acrescenta, no entanto: Cum Sancto
Spiritu, in gloria Dei Patris:
juntamente com o Espírito Santo, na glória de Deus Pai. Assim; ela
menciona cada uma das três Pessoas da Santíssima Trindade e o
louvores que ela dá a Cristo, chamando-O único Santo, único
Senhor, único Altíssimo, aplicam-se também para as outras duas
Pessoas, uma vez que o Pai e o Espírito Santo não podem ser
separados do Filho, e, como Ele, são O Santo, O Senhor, O Altíssimo:
e ninguém é Santo, ninguém é o Senhor, ninguém é Altíssimo,
exceto o grande Deus.
Neste Cântico magnífico, tudo é, ao mesmo tempo, grande e simples.
A Santa Igreja fica admirada com o pensamento de seu Esposo Divino.
Ela começou com o Kyrie, em seguida, o Hino dos Anjos segue
seu curso; Ela pegou o Hino deles, e o continuou; e o mesmo Espírito
que falou, através dos Anjos, para os pastores, ensinou a Igreja
como dignamente fechar o Cântico.
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